No passado dia 26 de junho, Tony Miranda apresentou a sua nova colecção de alta-costura nos jardins do Hotel Ritz, em Lisboa. Uma figura incontornável na moda e no estilo português, começou a sua carreira na casa Ted Lapidus. O Gentleman’s Journal aproveitou esta ocasião para conhecer melhor a carreira do designer e a sua visão sobre a elegância masculina.
1 – O que faz um homem ser elegante?
A elegância é algo inato que, mesmo quando não se nasce com ela, pode ser de alguma forma trabalhada, para se ir adquirindo esse requinte ao longo da vida. Sem falsa modéstia, tenho transformado muita gente ao longo da minha vida profissional. O conhecimento do outro é fundamental, pois vai ajudar a limar arestas e a transformar pouco a pouco, a pessoa que se veste, realçando os pontos positivos e limando as imperfeições.
A elegância é dada através da postura do fato, do gosto do seu manuseamento. Os conselhos que dou são importantíssimos, pois a interligação de todos os acessórios, camisas, gravatas, um simples lenço, sapatos e até as meias, fazem sem dúvida toda a diferença.
Depois, um cliente é um amigo – e a cumplicidade e confiança que se estabelece faz o resto do trabalho.
2 – Quais são as peças imprescindíveis no guarda-roupa masculino?
Imprescindível, o fato escuro, azul ou cinza, entre eles um assertoado. As camisas, champagne, azul pálido, as gravatas sóbrias, os sapatos escuros, estão sempre indicados para qualquer reunião imprescindível ou jantar súbito que surja.
Uma calça de ganga de bom corte é, também, uma peça imprescindível em qualquer armário. Aconselho uma excelente camisa de seda e um blazer, tornando o homem muito elegante, porém casual.
Para a noite, e em alternativa ao smoking, gosto muito da introducção de um casaco de veludo em seda frapê , casando-o com uma calça de crepe em seda preta. Pode fazer a diferença em qualquer festa e o sucesso está sempre garantido.
3 – Tem role models na elegância masculina? figuras que o inspirem?
Não me inspiro muito no que vejo, inspiro-me mais no que imagino. Em qualquer caso, o Roger Moore, Sean Connery, o presidente John Kennedy ou o actor Richard Burton, foram pessoas que vestiram e se moveram com muita elegância.
Em Portugal, por exemplo, José Sócrates é um homem que poderia ser mais elegante, tem corpo para isso. Precisava era de ter outros fatos: o pronto-a-vestir, mesmo quando é caro, tem limitações óbvias. Outro português que acho muito elegante é o José Mourinho. É bem constituído, tem porte. Teria muito gosto em vesti-lo.
4 – Pela sua vasta experiência no mundo da moda, existe uma cultura mundial de elegância masculina?
Sim, a moda não tem fronteiras nem nacionalidades. A cultura do gosto, do requinte, do sofisticado e da moda, deveriam andar de mãos dadas, o que nem sempre acontece. Existem povos que, de facto, se preocupam mais com isso e que também são mais exigentes. Os princípios da elegância masculina globalizaram-se e pessoas com muito bom gosto existem em qualquer lugar do mundo.
5 – A sua carreira começou na Ted Lapidus, pode nos contar brevemente como foi o começo nessa marca tão emblemática na história da Moda masculina?
Um dia, estava a almoçar numa pizzaria, e li num jornal um anúncio que pedia “um jovem, com ideias criativas, para um posto importante para o Ted Lapidus”. Cheguei ao trabalho e disse que ia apresentar-me àquele emprego. E lá fui eu. Quando lá cheguei, a fila de candidatos era enorme. Quando me estavam a perguntar onde tinha trabalhado, apareceu o Ted Lapidus em pessoa. Eu respondi que tinha trabalhado com o Josef Campos. O Ted olhou para o responsável e disse para eu ficar.
“Quando podes começar?”, perguntou ele. E eu disse: “Hoje”. Eram quatro da tarde, o Ted disse-me que já não valia a pena e mandou-me regressar no dia seguinte. Apareci. E ele disse-me que queria que eu lhe fizesse um fato. Fomos para o provador, medi, e ele disse: “Nada mau”. Veio a mulher e disse que queria um para ela também. E eu fiz. Começaram a dar-me uns fatos para eu fazer para ele, para ela e para um cliente.
No fim do mês perguntou-me quanto é que eu ganhava. Eu respondi e ele ofereceu-me o dobro do que recebia no Josef Campos. Comecei a fazer uma parte da colecção, de homem e de mulher. Deram-me alguns modelos para fazer, os modelos de senhora já estavam decididos, e eu perguntei: “Tratando-se de uma colecção, posso mudar a ideia?”
Ele respondeu que não gostava muito disso, que as ideias também eram do Lapidus e do designer. Eu disse que respeitava, mas que futuramente ele teria de aceitar também as minhas ideias. E comecei a fazer aquilo com paixão.
Digo sempre aos meus filhos que, quando se quer, tudo é possível na vida, é preciso ter aquela ambição e acreditar em nós próprios. Eu acreditei em mim.
Quando apresentei o que tinha feito foi um sucesso fantástico. Na segunda colecção tive mais de cinquenta por cento do trabalho a meu cargo. À quarta, fiz a colecção completa. Tinha 23 anos. Depois comecei a ocupar-me da colecção, o estilo blazer de homem fui eu que transformei, transformei o blazer de homem para senhora. Foi em 1969/1970.
Em 1971, o Ted Lapidus, quando eu lancei a colecção que abria com várias cores abertas, com manequins com guarda-chuvas de todas as cores, admitiu que eu passasse à alta costura.

