Bibliotecas Itinerantes e a Citroën. Uma história unida. Muitos já não recordarão, dos anos idos de metade do século XX, a chegada às mais recônditas aldeias das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian. Outros tantos reconhecerão a relevância do papel cultural e social desta iniciativa e de como marcou gerações, num país com enormes assimetrias regionais e gritantes desigualdades sociais.
A Citroën tem o seu passado ligado a esta tão nobre iniciativa que levava livros, e tudo o que eles transportam, a meninos e meninas de todo o país, e cuja primeira imagem que guardavam era a do furgão HY! Esta bela herança vai ser agora reavivada numa “VIAGEM ao INTERIOR”, iniciativa do Jornalista e Escritor João Ferreira Oliveira e à qual a Citroën decidiu associar-se — desta feita com um herdeiro do HY, o Citroën Jumper, repleto de livros.
Combater o isolamento a que estão vetadas tantas crianças, que vivem fora das grandes cidades e que, deste modo, têm um mais difícil acesso aos livros. Esta frase resume parte da iniciativa “VIAGEM ao INTERIOR dos livros, das pessoas e do país” e simboliza o peculiar e tão nobre desejo de recordar aos pais e avós dessas crianças as bem conhecidas Bibliotecas Itinerantes que durante décadas cumpriram – e outras continuam a cumprir – esta função, tão singela, de levar livros a quem não tinha acesso aos mesmos.
As realidades do século XX e da segunda década do século XXI tocam-se, muito mais do que imaginamos, e a verdade é que o autor revela, com a missão a que se acometeu, que há, hoje também, crianças (e não só) que não podem sonhar os sonhos que só os livros permitem.
Trata-se, todavia, de mais do que levar livros às pessoas. Trata-se de conhecer as pessoas e um outro país. Um país que vive a outra velocidade, com outras necessidades e com outros sonhos. A esta iniciativa, que tem como base a enorme sensibilidade e o olhar, claramente afastado do “mainstream”, de João Ferreira Oliveira, a Citroën decidiu dar um apoio formal e que tem também razões históricas, que não podem ser menosprezadas. A Citroën não esconde o legado que transporta e do qual se orgulha: afinal a Biblioteca Itinerante tinha como imagem um ícone da marca e da indústria automóvel, o célebre modelo HY. Várias décadas volvidas, a Biblioteca Itinerante “do” João Ferreira Oliveira será um Citroën Jumper.
Nesta viagem, que vai para a estrada no dia 6 de maio, serão realizadas sessões de leitura ao ar livre, nas escolas, no centro das aldeias, no meio da rua, onde houver público e vontade de ouvir uma história. Sempre respeitando as regras sanitárias em vigor.
O autor decidiu que seria neste tempo estranho que vivemos a altura de dar corpo a um projeto que junta duas das suas paixões, nomeadamente a literatura infantil, área em que tem obra publicada, e viajar. Assim se junta o útil e o agradável, num resultado para o qual o próprio antevê um balanço altamente positivo.
Ciente de como a pandemia vincou as grandes diferenças entre as (tão poucas) regiões do nosso país, ele confidencia que “visito várias escolas durante o ano letivo, mas os destinos são quase sempre os mesmos. O sol gira, sobretudo, à volta do litoral. É um círculo vicioso.”
Assim, a meta é viagem em si própria e todos os locais de paragem serão também locais para ler e oferecer livros às crianças: “o objetivo não passa por vender livros, mas sim oferecê-los. Regressar a casa com a carrinha vazia, mas cheia de histórias! Quase 500 títulos, muitos deles doados por diversas editoras portuguesas e pela própria Citroën.”
João Ferreira Oliveira acrescenta também que “outra tarefa que quero cumprir é tentar fazer um retrato do país neste período em que vivemos. Não pretendo substituir-me a ninguém, antes pelo contrário. Existem várias Bibliotecas Itinerantes no ativo, dinamizadas por Câmaras Municipais, com gente que faz todos os dias aquilo que eu farei durante apenas um mês. É também ao encontro dessas pessoas que pretendo ir. O João, autor, vai ler. O João Ferreira de Oliveira, jornalista, vai trabalhar.”
A partida será a 6 de maio, com saída de Lisboa rumo às Aldeias do Xisto, seguindo-se a Rota da Terra Fria (Trás-os-Montes), o Alentejo Interior e o Algarve Interior. Quatro destinos bem distintos, mas com algo em comum: mais do que quilómetros, estão afastados da vida e das oportunidades que as cidades encerram. Lá as crianças também têm vida, mas escasseiam tantas outras coisas, entre elas livros e… quem, a troco de nada, lhes conte histórias.
O acompanhamento online das viagens pode ser feito aqui: https://www.instagram.com/viagem_ao_interior
FOTOS: As imagens do HY da Fundação Calouste Gulbenkian têm os seguintes créditos:
Col. Arquivos Gulbenkian I FCG – Biblioteca de Arte de Arquivos