Gentlemen’s Talks – Luis Costa Branco
Para quem é um profissional da comunicação social, de modo especial, a TV, as mudanças e os desafios são constantes e quotidianos. Seja pela qualidade da mesma, da fuga aos populismos, de uma comunicação isenta.
Por isso, conversar com Luís Costa Branco foi um prazer. Começou nos anos 90 como jornalista da TURBO, passou pela TSF, oito anos na SIC, em Angola com o Jornal Sol, uma carreira invejável que traz consigo a sabedoria para “opinar” sobre as mudanças no mundo. De modo especial, os desafios lançados pelo online.
(Fotografia de arquivo do próprio)
1 – O que é para ti um homem elegante?
LCB: A percepção da elegância masculina pode ter, na minha opinião, duas grandes influências. A forma de estar e a forma de vestir. Sendo optimista por natureza, prefiro acreditar que estão interligadas e refletem uma unidade.
Na forma de estar, valorizo a capacidade de se adaptar a vários ambientes com naturalidade, respeitando quem está à volta sem que isso signifique perda de identidade pessoal. Ou seja, manter a capacidade de afirmar os próprios valores, gostos e opiniões de forma clara, mas sem necessidade de menorizar leituras diferentes.
Quanto à forma de vestir, penso que o bom senso, algum desprendimento e o humor podem resultar num bom cocktail. O bom senso pela necessidade de adaptar o que se veste ao contexto em que se está; o desprendimento para não cair num egocentrismo ridículo; e o humor porque pode ser uma forma de fazer combinações mais improváveis e que sirvam para despertar bem-estar no próprio e agrado em que está connosco.
2 – “Role Models” de elegância masculina? tens? E porquê?
LCB: Há umas figuras do universo masculino que, se quiseres, podem ser consideradas como inspiradoras (ainda que, hoje em dia, tenha alguma ‘alergia’ a esta palavra, dado o bombardeamento a que estamos sujeitos).
De gerações mais antigas, Paul Newman e Steve Mcqueen, mesmo com as suas diferenças, compõem uma identidade masculina que me agrada. Foram homens que se destacaram nas suas carreiras e transmitem-me uma força marcada, aparentemente, por uma considerável dose de auto-confiança. O facto de serem homens com uma ligação muito forte ao mundo motorizado também tem, para mim, impacto. Na atualidade, posso referir os nomes de Barack Obama, Daniel Craig, Trevor Noah e Tom Hardy. Nestes casos, fico com a sensação da tal auto-confiança, desprendimento, humor e a capacidade de resistir a ‘egotrips’.
3 – Começaste no Canal Notícias de Lisboa em 1999, depois SIC, daí até agora o que mudou no mundo da TV?
LCB: Penso que na televisão, onde trabalho há mais de vinte anos, o que mudou é a velocidade. Tudo é mais rápido e isso não é necessariamente melhor. A informação, que é a minha área, passou a ter ciclos noticiosos consideravelmente mais curtos. A verdade é que a velocidade passou a condicionar cada vez mais o tempo para recolha e cruzamento de informação, mas também torna mais veloz a capacidade de reação dos protagonistas e de quem a consome. De uma forma mais genérica, a velocidade na televisão passou a afetar – e de que maneira – a criação de ‘estrelas’. Como em quase tudo, a velocidade excessiva potencia o erro. Assim, as ‘estrelas’ ou os sucessos de programação, muitas vezes são fenómenos efémeros porque não se dá, ou não se quer dar, tempo para que amadureçam. Como acontece na natureza, é necessário um tempo para plantar, crescer e depois colher. Só se consegue contornar esse tempo, nas culturas em regime intensivo ou em estufas. Aí, o que é plantado até pode ser muito agradável à vista, mas é padronizado e perde sabor. Penso que a analogia é compreensível…
4 – Quais são os desafios para a comunicação social neste momento?
LCB: Um dos desafios é, claramente, a crise no sector. A publicidade que sustenta a comunicação social está num processo de mudança acelerada para o digital. Os meios tradicionais vão ter que encontrar formas de se adaptarem a essa realidade. Outro grande desafio passa pelas alterações de consumo. Percebe-se que as gerações mais novas são capazes de absorver conteúdos de forma multidisciplinar e que têm um período de atenção consideravelmente menos tolerante do que os mais velhos. Conseguir captar a atenção na totalidade desses consumidores, implica ser criativo, sério e competente. No fundo, as características essenciais e distintivas de quem produz não terão mudado assim tanto, mas do outro lado a oferta é tanta que o desafio é tremendo. Por último, as chamadas fake news são outra barreira complicada de ultrapassar. Esta batalha pressupõe também, na minha opinião, alguma proatividade e desconfiança do próprio consumidor, mas a maior fatia está naturalmente do lado de quem produz.
5 – O online é um concorrente da TV?
LCB: Essa questão da concorrência dos meios é antiga. Quando apareceu a rádio, os jornais iam desaparecer. Quando apareceu a televisão, a rádio e os jornais tinham os dias contados. O nascer da internet fez surgir o mesmo fatalismo em relação à imprensa escrita, à rádio e à televisão. Penso que são complementares. É como se tivéssemos um bolo (a atenção dos consumidores) que foi sendo cada vez mais dividido. Apesar de serem, para mim, complementares, a verdade é que é indiscutível que as verbas para publicidade não esticam. Antes pelo contrário. Portanto, há que ir encontrando cada vez mais formas de ir fazendo tudo isto com qualidade, criatividade e rigor, sendo que os meios para produzir cada um destes sectores também estão cada vez mais acessíveis. A necessidade de informação e entretenimento sempre existirá. Resta-nos acertar na forma de captar a atenção de quem está do outro lado.