Uma antiga tradição de Quinta-feira Santa, a visita a sete igrejas, em Quinta-feira Santa tem os seus fundamentos, dizem alguns, na peregrinação da vida, e talvez, no “caminhar” de Jesus entre, Herodes, Pilatos e o sumo-sacerdote para ver como completar a sua condenação. Mas, o facto é que é uma tradição já implantada em 1551 por São Filipe Neri, em Roma. Os primeiros membros da Congregação do Oratório, a sua ordem religiosa, faziam uma peregrinação noturna que chamavam de “visitas”, evocando a simplicidade e a naturalidade das visitas entre amigos próximos. Seja pelo lado da caminhada humana, pela reflexão divina ou por simples devoção, deixamos aqui sete igrejas para visitarem nestes dias, em plena Baixa de Lisboa.
Sé de Lisboa: a igreja-mãe da diocese, sede do Patriarcado, tantas vezes referida na história da cidade, onde Santo António deve ter aprendido os primeiros princípios da teologia. Onde nasce a Misericórdia de Lisboa e onde repousa a relíquia do Santo patrono de Lisboa, São Vicente.
Igreja da Conceição Velha, na rua da Alfândega. Em 1502, o rei D. Manuel mandou edificar uma igreja, no lugar da antiga Judiaria Grande, sinagoga situada entre as actuais ruas dos Fanqueiros e Madalena, e entregou-a aos “freires” da Ordem de Cristo. Nesta igreja nova, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, os irmãos entronizam a lindíssima imagem, peça em pedra do século XV, de Nossa Senhora do Restelo ou de Belém que os acompanhou desde a antiga ermida do Restelo. A paróquia ali criada, em 16 de Janeiro de 1568, recebe como padroeira Nossa Senhora da Conceição, tendo sido a primeira da diocese com esta invocação. Em 1682, a paróquia é mudada para a ermida de Nossa Senhora da Vitória, e posteriormente, em 1699, para uma nova igreja, iniciada em 1698 e concluída em 1730, e dedicada à Virgem com o título de Conceição Nova.
A igreja da Ordem de Cristo passou a ser designada popularmente por Conceição velha, diferenciando-se assim da Nova. Desalojados pelo terramoto, os religiosos da Ordem de Cristo ocupam em 1777 a primitiva igreja da Misericórdia, reconstruída em traça pombalina, trazendo consigo o orago de Nossa Senhora da Conceição e a denominação de Conceição Velha, pela qual ainda hoje é conhecida.
Igreja de Santa Maria Madalena, no Largo da Madalena: A Igreja de Santa Maria Madalena foi fundada logo a seguir à reconquista cristã de Lisboa, às portas da Cerca Moura, datando de 1164 o primeiro testemunho a ela relativo. Ao longo dos séculos foi recebendo várias campanhas de obras, em 1262, 1372 e 1692. Quase totalmente destruída pelo Terramoto de 1755, pouco mais se tendo salvado além da sacristia, a sua reedificação começou em 1761, sendo aberta ao culto em 1783, apesar de as intervenções decorativas terem continuado ainda por mais duas décadas. Embora com dimensões mais reduzidas, a igreja foi reedificada mantendo a anterior orientação e localização.
Igreja de São Nicolau, na Rua da Vitória: Existindo já como sede paroquial em 1209, a igreja foi reedificada em 1280 por iniciativa do bispo D. Mateus. Entre 1616 e 1650 recebe nova campanha de obras, de uma só nave e dez capelas laterais com ricos retábulos de talha dourada. Depois do terramoto, as ruínas foram derrubadas em 1775, para no ano seguinte começar a reedificação, sensivelmente no mesmo local que antes ocupava, mas agora com a fachada principal a Norte, orientação incomum nas igrejas de Lisboa. As obras demoraram-se longamente, só estando a igreja terminada em 1850, o que motivou algumas diferenças nos estilos e na qualidade dos materiais. A traça coube a Reinaldo Manuel dos Santos, oriundo da Escola de Mafra e então arquitecto das Obras Públicas do Reino.
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, na Rua de São Julião: Ao que tudo indica, há uma história comum entre a lisboeta Ermida de Nossa Senhora da Oliveira e a conhecida e importante Igreja de Santa Maria da Oliveira de Guimarães, a partir da qual esta invocação se disseminou por todo o país.
Certo é que a Oliveirinha foi fundada pelo casal vimaranense Clara Geraldes e Pero Esteves, em meados do século XIV. Ora, em 1342, para comemorar a vitória na Batalha do Salado, o mercador Pero Esteves, residente em Lisboa, fez erguer um cruzeiro em frente à Igreja da Colegiada de Santa Maria de Guimarães, instituída por D. Afonso Henriques onde existia já desde o século X um mosteiro fundado pela Condessa D. Mumadona Dias. Nesse já vetusto largo, uma velha e seca oliveira recuperou então a vida e reverdeceu passados três dias, milagre que provocou grande devoção, disseminando-se a partir daí a invocação a Nossa Senhora da Oliveira, tornada orago da igreja por D. João I, que a mandou reedificar em 1387, cumprindo um voto após a Batalha de Aljubarrota. Terá sido, pois, o mesmo Pero Esteves a mandar edificar nos seus terrenos de Lisboa uma ermida dedicada à mesma Senhora, poucos anos depois, edificando-lhe até, segundo algumas descrições, um cruzeiro defronte.
Igreja de Nossa Senhora da Vitória, à saída do metro da Baixa: No ano de 1530, constituiu-se a Irmandade dos Caldeireiros, elegendo como sua padroeira Nossa Senhora da Vitória, então venerada na capela do Hospital de Nossa Senhora das Virtudes. Em 1556 a Irmandade edificou ermida própria, contígua ao hospital, então desvinculado do Hospital de Todos-os-Santos. Casa de grande devoção, foi recebendo diversos privilégios, nomeadamente os que lhe advieram da agregação ao Hospital do Espírito Santo em Sassia (Roma). A partir de 1663, a Irmandade passou a designar-se por Real Irmandade de Nossa Senhora da Vitória, quando, durante as Guerras da Restauração, o rei D. Afonso VI reconheceu a Nossa Senhora da Vitória o sucesso na Batalha do Ameixial, comprometendo-se então a oferecer-lhe anualmente quatro arrobas de cera e tornando-se, a si e aos seus reais descendentes, juiz perpétuo da Irmandade, compromisso reafirmado pela rainha D. Maria I. Destruídos pelo Terramoto de 1755, o hospital e a igreja foram reedificados um pouco a sul da primitiva edificação, segundo projecto de José Monteiro de Carvalho. As obras de reedificação estenderam-se de 1765 até 1824. Tendo recebido campanha de restauro em 1940, sofreu em 1975 um incêndio que a desfigurou consideravelmente.
Igreja de São Domingos, ao Rossio: A antiga igreja do grande convento de São Domingos da cidade, depois da explosão das ordens religiosas em 1834, passa a ser sede paroquial. Mas, o esplendor que tinha continua a marcar quem passa por ela e nela celebra a sua fé.
Em 13 de agosto de 1959, um violento incêndio destruiu por completo a decoração interior da igreja, onde constavam altares em talha dourada, imagens valiosas e pinturas de Pedro Alexandrino de Carvalho. A igreja recebeu obras e reabriu ao público em 1994, sem esconder as marcas do incêndio, como as colunas rachadas. Ainda que destruída, é uma igreja que sobressai pela policromia dos seus mármores.
Actualmente é a igreja paroquial da freguesia de Santa Justa e Santa Rufina, em plena Baixa Pombalina e foi classificada como Monumento Nacional.