Por-tuga-l ou Por-tu-gal, eis a questão

Por-tuga-l ou Por-tu-gal, eis a questão

Portugal 1966

O futebol tem o seu mérito por elevar o espírito nacional, unir as pessoas e, desde há uns anos para cá, ter conseguido que os portugueses voltassem a sentir-se orgulhosos de serem isso mesmo: portugueses (curiosamente, quando um brasileiro apelou ao nosso sentido de país).

Também se pode dizer que é um veículo inigualável para situar o nosso cantinho geográfico no mapa-mundi e pôr a população de lés a lés a falar dos nossos méritos com nomes e apelidos. Mas se há uma coisa que me irrita soberanamente no futebol – a par dos informativos sobre “desporto” só falarem de futebol como se este fosse o desporto todo do mundo –, é que fez de nós todos “tugas”, e assim passámos a ser orgulhosamente apresentados ao universo inteiro quando se quer usar uma expressão carinhosa para este nosso mui nobre povo.

Na música também se ouve vezes sem conta, sobretudo no “Hip Hop Tuga”, termo que já serve de etiqueta ao Rap ‘tuguês. Acontece, porém, que “tuga” vem de “turra” (ou terrorista) e de “portuga”. De acordo com a santa Wikipedia, isto era o que os nossos irmãos-inimigos africanos nos chamavam durante a guerra de forma um tanto antipática e depreciativa…

Também se usou, em tempos talvez agora recuperados, para descrever os emigrantes assentados em França, no Luxemburgo ou em Newark, genericamente chamados Maneis e Marias, que limpavam casas e comiam bacalhau todos os dias. Atenção, não tenho nada contra os Maneis ou as Marias nem contra as pessoas que dignamente fazem pela vida a limpar casas; nem tão pouco contra as 1001 maneiras de servir e comer o bacalhau. Pelo contrário: admiro, respeito e adoro todas as receitas.

Só não gosto é que me chamem “tuga”. Nem a mim nem à gente da minha terra. Assim como não gosto que me chamem bimba ou parola, pacóvia, foleira, rústica ou labrega, nem portuga ou portuguesinha. Mesmo que o seja, desculpem lá, mas não me cai bem.

Eu sou e sempre fui orgulhosamente portuguesa. Lusitana já nem por isso, apesar de sentir uma ponta de satisfação ao pensar em tão heroicas origens. Mas tuga? Pá, tuga não…

Locutores da bola, rapers, hiphoppers, MC e resto do gangue, para relatar e rimar não é preciso degradar. Há que elevar, elevar, elevar. Yeah! A-ha…

Há quem ainda vá mais longe e tenha criado um “Orgulho Tuga”, quem conte a sua experiência de emigração em blogues chamados “Tuga aqui” ou “Tuga ali” e quem crie passarinhos tugas… Enfim. Agora que se aproxima o Mundial e se preparam as bandeiras, começamos de novo a puxar pelos galões… e a tugar-nos. Seja como for, venha ele. Venham o futebol, os jogos e a seleção. Venham as imperiais, os pregos, o Ronaldo e os golos. Os gritos de emoção serão gritados e os tremoços lançados ao ar. Com cada vitória faremos a festa. Mas para mim será uma festa portuguesa. Por- tu-gue-sa. Com todas as letras e respetivas sílabas. Porque tuga eu não sou. Yo!

By Margarita Cardoso de Meneses, a spanish/portuguese in London!

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